top of page

MANIFESTO PELA VIDA

2018

Certa vez me perguntaram do que eu tinha ódio
Respondi que não sentia ódio, que não guardava rancor
Mas pensando bem eu tenho ódio sim e não é porque eu quero
É porque eu sinto.
Eu sinto o ódio!
Eu sinto ódio o tempo inteiro.
Eu sinto o ódio de Xica Manicongo

de Thelma Lipp

das minhas ancestrais e irmãs que morreram em guerra

ódio que corre em minhas veias e me movimenta
Eu sinto o ódio do homem
Do homem que me odeia
O ódio do homem que tenta me matar
Que quer me matar
E que as vezes me mata.
Essa masculinidade tóxica que mata.
Mas se o homem mata
A mulher dá a vida
A travesti faz e refaz a vida
A energia feminina devolve, resgata, reconstrói e recria... a vida
O que a organização masculina de uma sociedade machista,

racista, transfóbica, homofóbica, patriarcal destrói...

a organização feminina recria e nos refaz.
Nos anos 80 acontecida a Operação Tarântula,

estratégia de extermínio criada por homens fardados para nos extinguir
Como pragas que impregnavam as ruas com ''viadagem'', prosmicuidade e doenças
Ameaças à família tradicional e aos bons costumes
Monstras, abjetas, sujas, brutais, sub-humanas
O inferno éramos nós.
Espécie extinta no Brasil, era o plano
Mas não conseguiram
Não conseguiram por que em 2015 eu criei uma política chamada TRANSFREE,

que da direito ao acesso gratuito de pessoas trans e travestis em eventos
Em 2015, Maria Clara Araújo se torna uma das primeiras travestis a entrar na UFPE,

Universidade Federal de Pernambuco
Em 2018, travestis conquistam o direito de mudar o nome nos documentos sem cirurgia de redesignação sexual
No mesmo ano, Erica Malunguinho é eleita primeira deputada transexual do estado de São Paulo 
Hoje, essa mesma mídia sensacionalista, essa mídia falsa, mentirosa, que mata e que enaltece a nossa morte

está sendo obrigada a ser uma mídia travesti
A ser uma mídia sobre VIDA travesti
De enaltecimento da VIDA travesti
Em 2018 travestis vivem!
E em 2019 e nos anos sombrios que estão por vir...
NÓS. CONTINUAREMOS. AQUI!
VIVAS! 
Travesti é sobre vidas vividas ao longo de linhas
Os mesmos tentáculos da Tarântula que outrora cercearam nossas vidas
Hoje tecem teias que nos enredam umas nas outras em linhas de afeto, compreensão e potência  
Estarmos vivas é parte da derrota deles
Estarmos juntas é parte da nossa vitória.

bottom of page