Jornal Nossa Voz Edição # 1023 - Casa do Povo
Ensaio textual e visual
A TRANSÄLIEN & Novíssimo Edgar
Título: Ensaio sobre as matas ciliares ou Abertura de Canais
2023
quando você aprendeu a se comunicar?
poliglota, polivalente, poliamor
imagens, sons, corpo, linguagem, grito, silêncio
a dor de um parto ou de quem parte sem emitir som
todos os idiomas tem encruzilhadas nas suas palavras
as mensagens nos reflexos que dizem tudo
o espelho, o outro, as projeções, os símbolos, as placas, etiquetas, as prisões, a repetição, a morte
o reflexo na água, a sombra, a luz do sol, desenhos que se formam nas nuvens, pichações,
paisagista do caos que celebra a vida
se faz necessário aprender a fazer refúgios, parque de diversões e abrigos ou apenas refazer tudo quando a realidade não faz jus
o toque, o relance, o não visto, a fé, a espiritualidade, a encantaria
o (sem) sentido, o sensível, o indecifrável, o mistério
tudo aquilo que palavra nenhuma traduz
o intangível se faz cada vez mais perspicaz sendo célula, molécula, átomo em movimento
a intuição dos seus cabelos, a conexão da sua língua, a sinergia dos odores, a intimidade do desconhecido, a vulnerabilidade das fortalezas, a entrega do que jamais foi pedido, a troca empírica, a frequência da osmose, a harmonia de centro de cidade grande e as suas vibrações invisíveis.
na psicanálise, o esquecimento é uma via possível de superação do trauma
e se o passado for um quadro negro para desenhar o infinito?
desenhamos usando o que? A memória?
e se eu for o sol desse céu que ilumina o meu olhar?
ou se eu for o céu desse sol que sustenta esse brilho?
e se as memórias forem histórias inventadas?
se o olho é uma câmera, como aperta o rec?
invenções que me salvam de afogar nas águas turvas das lembranças
sempre fui uma ótima criadora de barcos e os peixes eles sim sabem viver.
as cores aposemáticas, as máscaras de Deus, as indumentárias costuradas com a linha do tempo, a presença do antigo, a performance da sobrevivência, a imaginação e o delírio tropical, a utopia entrópica
Não reconhecer-se na origem natural da vida é abrir margem para encontrar-se nas sensações afloradas a partir da experiência desse corpo, para então incorporar outros e tantas outras como um pajé, um xamã, uma metamorfose que não cabe na boca de qualquer neo raul seixas, uma transmutação orgânica que dispensa as jaulas da biologia.
representar uma ruptura no padrão da linhagem é uma oportunidade de reescrever a história concedida, de forjar uma ancestralidade mutável, que se apresenta no aqui e agora, nas convergências, impactos e ressonâncias das afetações. quando a minha língua encontra a sua… acontece um beijo de linguagem e o universo gira, giza e goza. há um orgasmo em cima de nossas cabeças, a chuva é libido que deixa a terra fertil e satisfeita;
estaríamos nós criando ancestralidade no tempo presente?
eu, você, como chegamos até aqui?
supostamente seríamos, se fôssemos e como se fossemos, nós já somos.