
12/08/25 - SOBRE A (IN)FINITUDE
é interessante, a morte sempre foi um tema recorrente em meus pensamentos (engraçado, uso em demasiado a palavra ''sempre'' ao referir-me aos meus sentimentos e auto-percepções — talvez porque tudo que venho a fazer após meu nascer é estar me tornando quem eu sempre fui), mas mais do que um tema, a morte se apresenta como algo fundante em mim, que vivo a falar sobre a vida, a valorização da vida em sua essência primária e primordial.
já teorizei sobre minha mãe ter cedido a própria vida em detrimento da minha, por sua tolice ou ausência de recursos, ausência de amor e de tudo, fato é que não tenho recordações de qualquer mostra de sua vivacidade fora do âmbito de subserviência, seja no trabalho ou nas relações interpessoais. fui fadada a acompanhar de perto alguém que não experienciou aventurar-se na vida por si e para si mesma. fato é que vi alguém morrer lentamente até perder a total consciência da própria realidade. fato é que sob o ponto de vista psicanalítico, hoje cuido de um corpo que, em vida, já não vive. respira.
desde cedo peguei um gosto por imaginar a minha morte, não como um estado idealizado ao qual gostaria de fazer a passagem, mas sim como quem sente diariamente uma energia iminente. como quem já aceitou a única certeza. como quem já está pronta, mas espera para se atrasar.
de certo, a vida é uma fatalidade e a morte é um farol, cuja luz serve para guiar o caminho pelo lumiar do instante. quão forte a luz, maiores serão as sombras, mais claro será o percurso.
lembro de um período da adolescência em que vivia me questionando o porquê de ter nascido, como um fardo sob o qual não tive escolha, e portanto, me sentia profundamente angustiada, sobrecarregada. não apenas por ter nascido, mas por já ter nascido carregando tamanhas responsabilidades alheias. a co-dependência, disfarçada de amor, foi cruel comigo. moldou a maneira de me relacionar, enxergar e vivenciar o afeto. por tal, não agradeço. tampouco tenho ressentimentos. é o que é. agradeço, sim, pela virtude de não me conformar com o que foi feito de mim, ou com aquilo que ''sempre'' achei que fosse.
é só olhar pra natureza, pra história da terra, do cosmos, tudo está em movimento, transmutando. é inerente. é preciso matar e deixar morrer para que seja possível desabrochar novas camadas, versões e espécies que tragam novidade, outros sentidos, sabores, outros ecossistemas.
e assim a vida há de continuar, sempre diferente do que foi ontem.
acho que é a plena consciência da finitude que me faz querer fazer da minha vida infinita.
talvez por não sentir que vivo apenas (n)este tempo, mas (em) todos. com o tempo me fundo e transo na frequência do incapturável. talvez por ter que encarar a morte de frente todos os dias e insistir em um dia a mais, um respiro a mais.
quando a minha hora chegar, não quero que ninguém insista por mim.
quero ter o direito e a dignidade de abraçar a minha morte em sã consciência, em sã plenitude.
quero estar com a minha roupa mais brilhante. a máscara mais exuberante.
há de ter glitter, plumas e paetês por todos os lados, como o corpo que habitei
há de ter sons, risos e comoção, como foi por onde passei
há de ter vida, como foi o que plantei.
antes de me perder de mim mesma, quero ter a escolha.
quero ir em paz. eutanásia na suíça. something like that.
quero descansar, porque eu mereço.
e
enfim
morrer, como prova de que vivi.
minhas cinzas brilhantes estarão sempre por aí...
~☆~
20/07/25
vibro muito com o fato de que o universo sempre me levou aos lugares, sejam eles físicos, intelectuais ou criativos que se alinham com os meus anseios e, sobretudo, com a minha intuição. com aquilo que pulsa e emana em/de mim. a natureza me leva de encontro às confirmações dos
meus passos e meus sentidos por vias sensíveis, atentas, transversais, e isso é lindo. a intersecção entre arte, psicologia e espiritualidade tem sido meu pilar e o meu farol desde 2020 quando abri o portal de COSMOVERSE. e me deixa muito emocionada perceber que algo tão profundo em mim é o veículo que me conecta não só com o meu propósito mas com outros seres, outros mundos. criar e habitar outros mundos para lidar de maneira mais eloquente com este que nos foi dado é o caminho. o trabalho que venho desenvolvendo nos últimos anos me fazem enxergar isso nitidamente. me foi dada a loucura e hoje transformo em cura.
~☆~
01/06/25
vivendo um grande tormento mas sempre sorridente e deslumbrante
é assim que as estrelas vivem?
não sei, mas eu sonho um dia con-viver outras realidades diferentes dessas que me contaram.
faço muitas coisas diferentes, em arte, porque preciso transbordar. e preciso de todas as línguas e linguagens pra dar conta de tamanha correnteza.
maio foi assim: emoções de tirar o fôlego.
realizei o sonho de ver a Gaga, a Beth Ditto, respirei e fiquei em silêncio na cachoeira, sendo cuidada, sendo amada.
mas, como de costume, sofrendo na mesma intensidade da grandeza dos meus sonhos. mainha precisou ser internada e ainda estou processando isso. aproveito para pedir que por favor não me venham com convites descabidos pois o que eu preciso agora é de cuidado e de dinheiro, não de meras distrações. tô escrevendo isso pra que eu mesma não esqueça.
percebi que há tempos não compartilhava algo mais “despretensioso” por aqui, isso diz sobre o quanto tenho tentado dar conta de muita coisa sozinha e nesses contextos geralmente meu movimento acaba sendo de retração (muito diferente de proteção, armadilha na qual meu inconsciente insiste em me lançar). naturalmente, isso me adoece. faz algum tempo que não durmo direito e voltei a ter fortes enxaquecas. eu sei, algo está desregulado aqui dentro. preciso ajustar o meu tempo interior.
apesar de estar sempre deslumbrante, sorridente e diferente das iguais quando vocês me veem, também tenho estado triste, as vezes até em desespero, sem saber lidar com muita coisa que realmente só vivendo para (tentar) aprender.
enquanto escrevo acabo de lembrar que não preciso e jamais terei resposta pra tudo. e tá tudo bem, boba. chora mesmo, enquanto olha o céu azul da janela do busão, enquanto te cortam com aqueles olhares de navalha. meu rosto está coberto mas a lente da minha alma está sempre exposta, estou sempre do avesso. muito mais do que você, com a máscara que cobre o seu rosto. e eu não quero ter mais medo ou vergonha de chorar o meu sofrimento, de pedir ajuda.
de torta forma, é mainha quem está me ensinando isso.
a notícia boa é que estou voltando a fazer terapia. porque eu sou uma boa aluna em matéria de vida, sabe?!
preciso relembrar disso todos os dias para não esquecer de mim mesma.
~☆~
02/05/25
eu fico muito chateada quando pessoas próximas simplesmente esquecem e negligenciam o fato de que eu vivo com a responsabilidade de cuidar de alguém que depende de mim pra TUDO.
se eu não volto pra casa minha mãe não se alimenta.
o gerenciamento do meu tempo fora de casa é primordial.
ninguém faz ideia dos corres e sacrifícios que preciso fazer para estar (ou não) na rua
talvez só uma mãe.
~☆~
28/03/25
Oi gente, estive relutando sobre vir aqui me expor mas diante de tantas mensagens e da minha incapacidade de respondê-las, reuni forças pra comunicar que tenho estado ausente em virtude da situação aqui com mainha, cujo estado de saúde se agravou bastante no último mês. A depressão foi uma constante a vida inteira e agora ela voltou pior do que nunca. Tem sido muito chocante ver a saúde mental dela regredir tanto e em tão pouco tempo. Ainda estou lutando para entender como lidar e conviver com essa realidade sem me deixar afetar tanto, se é que isso é possível. A sensação é de depois de um voo tão alto ter pousado numa areia movediça…
Enfim, nos desejem sorte e emanem boas energias.
Agradeço a paciência, cuidado e presença! we’re in need!
~☆~

~☆~
29/10/24
para não desistir do amor
como desistir de algo tão vital, indissociável a experiência humana, a vida?
não desistir do amor é como cultivar a terra
sob o caos e o cosmos
sob a luz e a escuridão
assim o amor é: fluxo de renovação
olho pra dentro
escancaro a porta
abro a janela
troco um sorriso
afeto
sinto um abraço
me emociono
sinto o amor como natureza, força primordial
um pássaro livre, leal
um sentimento maior, universal
não desistir do amor é abraçar a complexidade de estar viva
e portanto, diariamente regar a alma de motivos para seguir
amando
~☆~
18/10/24
Qual corpo me sustentará quando o meu me faltar?
~☆~
30/08/24
bem, a vida tem me exigido tanto. viver demais, postar de menos. e é exatamente sobre isso. tenho caminhado para me tornar a artista que reservará ao trabalho o único canal de transmissão das mensagens que tenho a trazer pr’esse mundo. já são 5 meses vivendo uma outra realidade completamente diferente da que vivia desde quando saí de casa há quase 10 anos. e eu sei que deve estar sendo difícil para algumas pessoas, certamente não tanto quanto é pra mim, compreender que hoje a minha realidade é outra, eu sou outra. mas a transição é coletiva, e os ganhos estão aí…
nunca tinha tido que ser tão organizada e pragmática com relação ao meu tempo quanto agora. e zelar pelo tempo muda tudo! o cuidado muda tudo! é esse cuidado que venho nutrindo diariamente vivendo com mainha. sem dúvidas a experiência mais revolucionária na minha vida até hoje: ser matriarca. viver a maternidade, na prática. sentir manifestar em mim o legado da linhagem que me rege. hoje cuido de uma mãe como se fosse filha. e é. e somos. mães e filhas. juntas. como há de ser. a vida é mesmo um grande teatro. os papéis estão se invertendo o tempo todo. estamos todas usando máscaras, interpretando, sendo. vivendo e aprendendo a jogar.
tendo que ser sempre sábias, ligeiras, sensíveis aos sinais de transformação. olhar ao redor, prever a chuva, nadar no temporal. respirar. respirando fundo. encher o peito. expirar. tranquilamente. em paz e enfim a paz. indo dormir aliviada com a destreza de viver um dia de cada vez e com a certeza de que a missão está sendo cumprida.
em recente entrevista, que logo mais sairá na íntegra em livro, declarei:
''Sinto que falar de cuidado diz a respeito de algo que pulsa no senso de coletividade, na criação de rede, no pertencimento, afeto, na afetação. Na noção de unidade, finitude e interdependência de todos os seres. E por mais simples ou complexo que soe - tendo em vista o modus vivendi do sistema capitalista pautado na concentração de bens e poder, gerando indivíduos cada vez mais desumanos e sozinhos - acredito que o despertar dessa sensibilidade pode ser uma pista para tecer e expandir noções de respeito e cuidado para com o outro, o ar, os rios, a natureza e todas as formas de vida que coexistem na terra.''
acreditar na arte, no meu corpo e alma, em nós, é o meu norte. bússola e bálsamo.
acreditar nessa potência de vida que é tão inevitável quanto finita é a minha guia. mas também canso. e muito. constantemente. chega a doer. e dói, mesmo. mas passa, como tudo. e assim seguimos, aprendendo a levantar, atravessar, criando novas tecnologias e estratégias de sobrevivência, com graça, seguindo…
~☆~
23 de setembro de 2022
quando representamos uma ruptura no padrão da nossa linhagem ancestral, nasce uma oportunidade de recriarmos a história concedida, de forjar uma ancestralidade mutável, sem origem, que está se construindo no agora. nas convergências, impactos e ressonâncias das afetações.
cometas se chocam, raizes se emaranham, vidas se encontram por algum motivo... era pra ser?!
há uma necessidade avassaladora de refazer TUDO, já que nada na terra faz jus ou traduz.
mas e quando o passado te consome, te faz refém das memórias, te aprisiona nas profundezas das correntes sanguíneas? quando você não tem sequer a escolha de ser agente ativa do próprio destino? isso já não seria a verdadeira morte?
~☆~
22 de setembro de 2022
desatar laços
desapegar dos fatos
viver é reinventar os atos
nostalgia? saudade?
o passado é dura crueldade
a vida é fatal
lembro de relance da gal
entre findar e recomeçar
quem pode se renovar?
em quais condições?
chega de frias emoções
então
decanto
descanso
finalmente repouso o pranto
me cubro com o manto
a liberdade é o meu acalanto
~☆~
9 de Julho de 2022
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~☆~